"Depressão, depressivo, deprimente"

"Hoje foi o dia em quase pude tocar o silêncio. A casa estava vazia e só a ausência dele me fazia companhia."

Queria escrever uma carta ao ex visto que hoje faríamos 8 meses. No entanto nao me parece que va sair uma carta....sinto uma short-story..


"Ela esperava ao fundo da rua. Livro em mão, vestido de verão, sandálias abertas e uma malinha cor de rosa.
Ele caminhava lentamente. De uma forma ou outra ele sabia que ela estava a espera. Era como se ela fosse só dele, como se ela fosse garantida.
Já ele era outra história.
O rapaz de chinelos e calções era ao mesmo tempo tão fácil de entender e desvendar como dificil perceber e entender.
E a rapariga não conhecia essa sensação de garantia. Ele parecia sempre escapar-lhe por entre os dedos como a areia seca e fina da praia. Ele pareceia sempre desaparecer como um castelo de areia engolido por uma onda do mar. Talvez fossem os olhos dele. Ela perdia-se na cor deles..Tão claros e tão verdadeiros. Ou talvez, fosse pura ingenuidade dela. E até podíamos considerar que fosse a incontrolável vontade que ela tinha de amar e ser amada. É possível que tenha sido isso. Na verdade, ela sabia que era tudo isso.
Ele chega ao fundo da rua , esboça um sorriso e manda um beijo. Ela sorri e extende a mão. Não há palavras. O silêncio conforta, o silêncio grita, o silêncio ensurdece.Mas entre defeitos e imperfeições o casal caminhava, por vezes tropeçava e até caía mas sempre caminhava. Ela concentrada e fiel e ele distraído e alegre.
As diferenças entre os dois são gritantes, alarmantes ,quase, palpáveis. Mas ao mesmo tempo parecem completar-se. Parecem um puzzle que ao poucos vai ganhando forma embora ambos saibam que faltam peças...Umas comidas pelo tempo e outras imepedidas ou esquecidas pela dor. Dor essa que parece permanecer trancado no coração dele. Dor que ela conhece e partilha. Dor que ele recusa partilhar. A dor que os une acaba por ser a mesma que os separa. Aquela dor so dela e aquele jeito só dele.
O vento sopra e o cabelo dela esvoaça. Ele sorri porque gosto de vê-la aborrecida com elementos da natureza.
Quando ele olha para ela , ele sabe. Sabe que o futuro dele está ali. Sabe que a vida que ele sempre quis está ali. É ela, sempre foi ela.
Eles mudam de passeio ao mesmo tempo que mudam de rua, a mão dele bem presa à mão dela. é um gesto que ela ja aperfeiçouo. é um gesto pelo qual ele se apaixona todos os dias.
A segunda rua acaba.
O casal pára. Ela da-lhe um beijo no rosto e sussura-lhe um "amo-te" ao pé do ouvido e desce a rua sozinha sem olhar para trás.
É ele quem espera ao fundo da rua, de chinelos no pé e o cheiro dela na sua roupa"